100 ANOS DE BISPADO DE DOM JOÃO DE ALMEIDA FERRÃO - Campanhense, 1º Bispo da Diocese
CONHEÇA UM POUCO DA HISTÓRIA DE MAIS UM CAMPANHENSE ILUSTRE, NA REPOSRTAGEM DE MATEUS ARANTES, PUBLICADA NO SITE DA DIOCESE DA CAMPANHA.
A cidade de Campanha, considerada berço do Sul de Minas, sempre contou com filhos ilustres. Dentre considerado número de diletos filhos, como encontramos noticiado no jornal “Almanach Sul-Mineiro” de 1874, encontramos o Capitão Francisco Ferrão de Almeida Trant, descendente de distinta família de militares, que prestou serviços à causa pública e foi por longos anos um dos escrivães do Juízo, além de protetor e regente da Irmandade das Mercês, à qual era confiada a capela das Mercês, e fiel benfeitor da Igreja das Dores. Com fé forte e confiante, conduziu sua família. Um de seus filhos, João de Almeida Ferrão, foi ordenado e tornou-se o primeiro bispo da Campanha.
D. Ferrão, nasceu em Campanha a 30 de julho de 1853. Seus estudos primários, na época denominado de “estudos de humanidades”, foram feitos na cidade natal. Depois, em Três Pontas/MG continuou seus estudos sob a Tutela do Servo de Deus Padre Francisco de Paula Victor, o ”Pe. Victor, “o santo de Três Pontas”, homem de grandes virtudes. Seguiu para Mariana onde concluiu essa etapa, sob a direção e os cuidados de D. Viçoso, cuja fama de santidade também é conhecida. O seminarista Ferrão recebeu das mãos do santo Bispo, em maio de 1873, após concluir os estudos de teologia do Seminário do Caraça, a tonsura e as ordens menores. Fruto de todo processo formativo, D. Ferrão tinha uma fé robusta e inteligência privilegiada. Recebeu o sub-diaconato em 30 de março de 1875. Foi ordenado diácono por Dom João Antônio dos Santos, o virtuoso Bispo de Diamantina, no dia 24 de junho de 1876 na Catedral de Diamantina e no dia seguinte, 25 de junho de 1876 o presbiterato.
Pe. João chegou a Campanha em 16 de julho de 1876, cantou sua primeira missa na antiga Matriz no dia 30 de julho, dia de seu aniversário natalício. Foi capelão da Igreja das Dores, Provedor e Diretor do Ginásio São Luís Gonzaga (Campanha) permanecendo em Campanha até 1886, depois foi pároco de Machadinho (hoje Poço Fundo/MG) até sua transferência para a Diocese de São Paulo. Em São Paulo, sob o convite de D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho foi professor de Filosofia e de Teologia Dogmática no Seminário de São Paulo, e Pároco de Carmo da Escaramuça (atual Paraguaçu/MG) que então pertencia àquela diocese. Neste período ele seguiu para Europa, junto com D. Silvério Gomes Pimenta, bispo de Mariana, tendo percorrido a França, a Itália, a Espanha, o Egito até chegar à Terra Santa. Regressando a Campanha, seguiu em 1897 para ser professor de Francês no Ginásio Normal de Três Pontas, até 1898 quando foi nomeado Vigário de Varginha.
Em agosto de 1901, chamado por D. João Baptista Correa Nery, seguiu para Pouso Alegre/MG, onde foi professor de Direito Canônico e de Moral no Seminário de Pouso Alegre, Prelado Doméstico de Sua Santidade o Papa Leão XIII (07-10-1903), Conselheiro Diocesano (28-02-1904), Protonotário Apostólico de Pio X (27-08-1905), Cônego Catedrático e Arcipreste do cabido de Pouso Alegre (18-03-1907) e Vigário Geral de Pouso Alegre em 28 de outubro de 1901. S. Excia era Conde da Santa Sé e Assistente ao Sólio Pontifício.
Desde o final do século XIX cogitava-se a criação de uma diocese no Sul de Minas Gerais, o que acabou se concretizando em 1901 com a fundação da Diocese de Pouso Alegre. No entanto, a cidade de Pouso Alegre não era a única a postular receber a sede de um bispado. Campanha, mesmo porque como já afirmamos, sendo o “berço” do Sul de Minas também através de seus tantos diletos e influentes filhos, buscaram para a terra natal, tão ilustre presente e graça de Deus. Isto exigiu esforço de muitos campanhenses, de forma singular e aprofundado o indispensável e incansável empenho do então Monsenhor Ferrão, Vigário Geral de D. Nery, para a fundação e ereção da Sé da Campanha, que ao ser criada teve como Administrador Apostólico D. Nery e em 29 de abril de 1909, nomeado por Sua Santidade o Papa Pio X, São Pio X, o Monsenhor João de Almeida Ferrão, para ser “príncipe da Igreja”, servidor do Senhor, Pai e Pastor, um Bispo zeloso.
Mons. Ferrão foi preconizado Bispo Diocesano da Campanha a 27 de abril de 1909 e sagrado bispo por S. Emª. Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, cardeal do Rio de Janeiro, auxiliado por Dom Nery (agora bispo de Campinas/SP) e de Dom Antônio Assis (então bispo de Pouso Alegre/MG), a 12 de setembro de 1909 em uma solene cerimônia na Igreja Matriz de Campanha, agora elevada à Igreja Mãe da Diocese da Campanha, Catedral do bispado. O lema de seu Brasão episcopal foi “Dominus Fortitudo Nostra” - O Senhor é Nossa Fortaleza (Salmo 42,2).
Tomando posse da Diocese, logo fundou o Seminário de Nossa Senhora das Dores, o Ginásio Diocesano São João, organizou as Paróquias da Diocese, seus colégios e escolas, suas Associações Religiosas, além de trazer inúmeras congregações religiosas para a Diocese. Dom Ferrão visitou inúmeras vezes a Diocese, e por alguns anos o fez sobre um cavalo. Suas visitas seguiam o Ritual oficial das Visitas Pastorais dos Bispos, seguindo todo cerimonial e pompa. Com muito cuidado e organização, constituiu vultosas quantias tanto em dinheiro, quanto em patrimônio para a sobrevivência da Diocese e manutenção do Seminário. Por alguns anos prestou bons serviços a Dom Epaminondas, no bispado de Taubaté, onde efetuou muitas ordenações religiosas e diocesanas.
D. Ferrão dispensou sempre profundo respeito e amizade sincera aos seus filhos espirituais, desde os empregados mais humildes, bem como para com seus seminaristas que “eram a pupila de seus olhos paternais”, até os velhos sacerdotes que o ajudavam no múnus pastoral.
Com 83 anos de vida, faleceu em Campanha na noite de Natal (24 para 25 de dezembro de 1935). “Mal soaram as badaladas que anunciavam a meia-noite santa, o grande Bispo estremeceu uns instantes e, entre as orações dos que o cercavam, entrega a sua alma cândida ao Senhor” (assim anunciava ao Clero e aos Fiéis a infausta notícia, o bispo Coadjutor Dom Inocêncio).